quinta-feira, julho 02, 2009

Orgulhos

Falo agora com o meu pai como não falava há muito. Falo pensando, e tenho a certeza de que, lá onde estiver, ele me ouve, como não me conseguia ouvir quando ainda cá estava. E, sem dúvida, está neste momento orgulhoso da sua neta mais velha - a minha filha. Tanto como eu, pelo menos; ou mais ainda, porque, com a sua sabedoria de muitos anos, a sua visão é diferente (não mais neutra, porque de avô babado).
Viu-a, no dia do funeral, a cuidar da mãe, com um carinho extremo. A limpar-lhe lágrimas teimosas que insistiam, de vez em quando, em rolar pela cara abaixo. A abraçá-la e dar-lhe a mão. A enchê-la de beijos. A desistir dos planos que já tinha feito para ficar ao seu lado. De lá de onde está, o avô orgulhou-se dela e sorriu, com aquele sorriso bonito que tantas vezes dirigiu a essa neta, a primeira que segurou nos braços, com infinita ternura.
Está, de certeza, agora, a sorrir de novo, com o sorriso que tantas vezes lhe vi quando eu tinha boas notas, porque ela foi, de novo, a melhor aluna da turma, proposta para o prémio de mérito da escola.
Se fosses vivo, pai, eu ia contar-te estas coisas todas, dando-te a mão, dando-te um beijo. Tu ias ter muita dificuldade em manifestar que tinhas compreendido e que estavas feliz. Agora já não há essas barreiras entre nós; só me custa não te poder beijar nem acariciar a tua mão...

2 comentários:

Anónimo disse...

E como consigo visualizar o carinho que tu punhas nesse acto de contar as coisas ao teu pai, dando-lhe a mão, dando-lhe um beijo, fazendo-lhe festinhas...

Zu disse...

Pois consegues; tu viste-me a fazer isso, muitas vezes... (mesmo anónimo, adivinho-te, meu querido!)